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sábado, 25 de setembro de 2010

Experiências

Não abandonei o blog, só fiquei sem tempo para atualizá-lo. Peço que me desculpem! (e estou falando com os 5 leitores desse blog hahaha).

As próximas postagens serão cada vez mais curtas, até porque longos posts – como os anteriores – são cansativos para escrever e para ler.

Hoje conheci o PlugEdu, uma rede social exclusiva para educadores. Achei a ideia bacana e fui conhecer o serviço. Apesar de ainda pouco movimentado, encontrei coisas bem interessantes, como, por exemplo, a experiência de uma professora recém chegada à rede pública de ensino. Segue o seu relato:

Comecei a atuar no ensino público em abril desse ano. Cheguei lá e o choque foi tão grande que passei uma semana em casa de molho confabulando se iria encarar essa ou não. O ambiente beirava o bizarro no sentido mais literal do palavra. Era gente riscando parede, gente jogando cadeira, galera achando mó barato se estapear, fora os tocos de giz que voavam na minha cabeça toda vez que eu virava as costas.
Eu via os professores se impondo aos gritos e pensei: "opa, vou por esse caminho aí". Não adiantou e me vi na mesma situação que você. Na primeira semana fiquei afônica e não consegui respeito algum. Desde a minha aparência física até a minha própria personalidade não me permitiam isso. Pudera, era um grito sem sentido. Foi aí que eu tentei o caminho inverso. Vendo que com 23 anos eu não conseguiria impor coisa alguma, eu comecei a me aproximar não como uma líder, mas como mais uma como eles. Fiquei quase um mês inteiro sem lecionar minha matéria só conversando sobre expectativas, desejos, anseios, frustrações... e, cara! Essa criançada tinha tanto verbo para rasgar! E, o melhor, coisas com as quais eu concordava como a chatice que é o pseudo-ensino copista, como é um porre trabalhar só como receptor, como o professor pode exigir respeito se nem um diálogo decente ele tenta manter...
Eu, literalmente, abracei a causa. Abri mão da lousa (já não uso a bendita há quase dois meses), comecei a elaborar roteiros de teatro sobre a realidade dos alunos (engraçado eles mesmos escolherem falar sobre bullying), a falar e estudar sobre o maldito funk, a marcar pelada na quadra professoras x alunas e dar risada com os meus próprios capotes.
Mas não vou dizer que é fácil. Tenho mais duas pessoas com quem tenho a sorte de compartilhar minha indignação, inquietação na escola onde atuo e de quando em quando temos entrado nas salas de aula juntas dividindo responsabilidades. Esse tipo de liberdade e relacionamento que eu tenho com as crianças ainda soa um tanto estranho para minha direção, por exemplo. Mas, quer saber... A gente tem argumentado, sim. Eu sou funcionária pública, você também e sabe como é. Se, por um lado, o sistema me ferra a vida em alguns aspectos, enquanto profissional da educação me sinto à vontade para utilizar a pedagogia que eu julgar melhor e bater de frente se eu achar necessário porque o cargo é meu e ponto. No mais, eu abro o meu "ignore list" para esse povo e tento tocar a minha comemorando pequenos êxitos... e com esperança, sempre, porque essa a gente não pode perder de jeito nenhum.

Original aqui.

 

No estágio eu tenho observado algo semelhante. Outro dia, enquanto a professora dava uma aula sobre notícia de jornal, uma garota ao meu lado disse “nossa, que aula insuportável!”. Curioso, perguntei “por que você está achando insuportável?”, e ela me respondeu “eu nunca li um jornal, nem sei direito como é”. Perguntei: “mas você queria saber como é?”, e obtive como resposta “pra quê?”.

Não pude prolongar o assunto porque estávamos no meio de uma aula. Mas fiquei pensando como aquela aula não fazia o menor sentido para aquela garota. E estou certo de que a professora nem suspeitava disso.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

1º dia de estágio. Parte 2: Na sala de aula

Caminhando pelo corredor em direção à sala de aula, todos os olhares se dirigiam a mim. Alguns já vieram e me perguntaram "quem é você?", "é professor?", "é marido da professora Cláudia?". A gritaria geral era tanta que eu nem consegui responder. Entramos na sala, sentei no fundo.

1ª aula - 7ª série
Os alunos estavam agitados, falavam, gritavam, corriam. A professora gastou uns 10 minutos tentando acalmá-los. Ela disse que eles eram inteligentes, a dificuldade que tinham era por não prestarem atenção. Mais 10 minutos se foram enquanto ela fazia a chamada.

O conteúdo da aula foi Complemento Nominal, assim, na lata, gramática a seco. A professora explica que eles iriam rever essa matéria porque foram mal na prova.
Durante a explicação, com frases soltas na lousa, os alunos não recordam o que é preposição. A professora , então, explica que não poderia voltar a matéria e que já havia feito uma revisão no primeiro bimestre do ano. Ela indica o site www.soportugues.com.br e pede para que eles, em casa, façam uma revisão das classes gramaticais. Também reforça o prazo de entrega para o trabalho sobre Pop Art que eles estão fazendo.

A professora passa definição e exemplos de CN na lousa, mas observo que poucos copiam. Durante toda a aula, alguns alunos andam pela sala, outros se comunicam gritando e outros se xingam o tempo todo.


2ª aula - 5ª série
Pequenos, agitados e inquietos. Assim é essa 5ª série.
Usando a apostila (Caderno do Aluno) a professora pede para que eles digam os nomes dos monumentos históricos ilustrados pelas imagens (Torre Eiffel, pirâmides do egito, coliseu, etc). Eles reconhecem alguns dos monumentos.
Na segunda parte do atividade, ela pede para que eles escreveam no caderno o que sabem sobre cada país representado pelo monumento. Valia de tudo, cultura, religião, política, etc. 
Eles não conseguiram fazer essa atividade. Ficou bem claro que eles pouco conheciam sobre outros países (com exceção da pizza para a Itália e da tourada para a Espanha). Notei que mesmo a professora teve alguma dificuldade em citar exemplos que poderiam ser utilizados. Com a dificuldade em fazer a atividade, a sala que já era inquieta entrou em caos. Nem mesmo eu, lá no fundo, conseguia escutar o que a professora explicava lá na frente.
Fiquei pensando que aquela atividade proposta pelo Caderno do Aluno, material do governo, possuía bons elementos que poderiam ser adaptados em outras atividades que permitissem aos alunos conhecer mais sobre a cultura dos países citados. Talvez, numa abordagem diferente, haveria maior interesse da parte dos alunos. Fiquei com ideia de criar uma sequência didática (de 4 aulas) com atividades alternativas que trabalhem com o tema "Cultura de outros países". Quando a fizer, eu coloco aqui no blog.

 3ª aula - 6ª série
Mais uma vez, uma aula de gramática. Tipos de sujeito.
Essa turma é mais calma, mas ainda é difícil conseguir ouvir a professora. Uma aluna reclama que o assunto é repetido, que eles já aprenderam aquilo. A professora diz que eles continuam com dificuldade no assunto.
Observo que os alunos que estão sentados na frente da sala participam mais da aula, respondem, perguntam. Os alunos que sentam no fundo conversam em duplas, trios, e parecem alheios à aula.

 4ª aula - 5ª série
Antes de entrar na sala a professora já me avisa que eles são bem barulhentos.
Muitos me deram boas vindas, outros foram me cumprimentar com aperto de mão. Um aluno trouxe uma carteira pra mim. É, fui muito bem recebido nessa turma.

A atividade utilizou nomes e formas em inglês.
A professora pediu para que eu fosse buscar duas cartolinas brancas na secretaria. Enquanto isso, colocou na lousa uma série de formas geométricas e nomes de cores (em inglês). Quando voltei, ela recortou a cartolina em pequenos quadrados e distribuiu aos alunos. Eles precisavam escolher uma forma, desenhá-la, e escolher uma cor para pintá-la.
A professora disse que iria colocar os trabalhos expostos no corredor.  Eles protestaram "pra quê? vão arrancar tudo!". "Então eu coloco no corredor da diretoria".
Mesmo com a gritaria e o corre-corre pela sala, a maioria (talvez todos) fizeram a atividade. Percebi que é mais fácil envolvê-los na atividade quando essa exige algum tipo de trabalho manual.
Essa foi uma aula de inglês, não conta para  o meu estágio. Ainda assim, foi interessante assisti-la.

5ª aula - 7ª série
Aula = intervalo.
Foi o que pensei durante todo o tempo em que estive na sala dessa turma. Dez minutos lá dentro, e minha vontade era correr, tamanho o barulho que faziam. Eles derrubavam cadeiras (simulando que estavam caindo), um garoto jogava o caderno no chão, uma garota gritava palavrões, outros trocavam chutes.

A professora pediu para uma aluna passar a matéria na lousa. O assunto era Adjunto Adnominal.  Poucos copiaram.

Uma aluna gritou "gente, para, a professora está com dor de cabeça". Era verdade. Talvez por ser a última aula, e por já ter ouvido tantos gritos, ela ficou com dor de cabeça e praticamente impossibilitada de dar aula. O caos, então, tomou conta de tudo.

Fiquei com muita pena da professora. E a imagem dela ali, sentada, mão na testa, olhando a guerra que acontecia ao seu redor, me pareceu a representação perfeita da derrota do professor frente ao desinteresse, à falta de respeito e à indisciplina dos alunos. Alí eles não só desreitavam o profissional docente, mas também a pessoa, o ser humano que sofria na frente deles. 
Saí daquela sala abalado e naquele momento pensei: "como acreditar na educação quando é difícil acreditar no ser humano?".

Considerações do dia:
Depois de tanto aprender na faculdade sobre como deve ser uma aula de Português, confesso que não esperava ver aulas de Gramática tão tradicionais. Estudos, pesquisas, e o próprio resultado obtido durante os anos em que as aulas de Português se resumiam à Gramática, já provaram que esse método, esse estilo, não funciona, não diz nada aos alunos. Acredito que a gramática deve ter seu lugar nas aulas de Português, mas ela precisa ser transmitida dentro de um contexto e com uma finalidade que vá além de decorar nomes e regras. Fiquei pensando se as aulas tão tradicionais eram uma escolha da professora (que, pela idade, não se formou há muito tempo) ou se eram uma imposição da escola. Isso só descobrirei com o tempo.

Também observei que mesmo se tratando de uma escola inserida no meio de uma comunidade carente, os alunos não parecem ter dificuldades em acessar a internet. Isso ficou claro quando a professora sugeriu um site e a maioria disse já tê-lo acessado. Certamente, isso abre muitas possibilidades que podem ser exploradas pelo professor.

É claro que, como mero observador, muitas ideias surgem na minha cabeça enquanto assisto às aulas.  Sempre penso "se isso fosse feito de tal forma, funcionaria melhor". Sei, no entanto, que não há nenhuma garantia disso. Ser professor é um desafio gigantesco, e nunca pude ver isso tão claramente como vi nesse primeiro dia de estágio. Na sala dos professores, vi muitos que já foram derrotados. 
Ainda assim, quero aceitar esse desafio.

domingo, 29 de agosto de 2010

1º dia de estágio. Parte 1: Na sala dos professores

Cheguei pouco antes do horário de entrada dos alunos. Perguntei pela coordenadora Elisa e o inspetor me disse que ela ainda não havia chegado e que eu poderia aguardar na sala dos professores para já ir me acostumando e me enturmando.
Duas professores estavam na sala. Meio sem jeito, pedi licença, dei bom dia, me identifiquei e sentei na cadeira no canto da mesa.
Sensação estranha a de estar do outro lado da situação,  ou seja, estar na escola como professor e não como aluno. A misteriosa sala dos professores agora se desvendava para mim. A figura do professor me parecia mais humana, com marmitas saindo da bolsa, manteiga sendo passada no pão, abraços entre professor e professora e até um professor que cantava em inglês e ensaiava alguns passinhos de dança, mas que, de repente, diz "ah é, não posso ser feliz, felicidade incomoda".

Outros professores foram chegando. Alguns perguntavam quem eu era, me cumprimentavam e diziam "bem-vindo", outros pareciam não me enxergar ali.  Dez, doze, professores estavam na sala e conversavam alto. O assunto? Basicamente reclamavam dos alunos. Alguns reclamavam de maneira geral, outros citavam uma lista de nomes que logo era acrescida de outros nomes lembrados pelos professores. Esses alunos eram chamados pelos professores de tranqueiras. 
Também foi fácil perceber que os professores não se davam bem com a coordenadora pedagógica. Ela ainda não havia chegado, e muitos foram os comentários e piadas infames sobre ela. Ficou bem claro para que mim que a relação professores-coordenadora, tão vital para o bom andamento da escola, é bem problemática.
O inspetor de alunos entrou na sala e disse "hoje quando Marcela (nome fictício) entrar na sala, vou fazê-la descer e assinar uma advertência", nisso, o professor Saulo (aquele da dancinha) disse "já fez o projeto? Porque aqui é tudo com projeto", evidentemente, ele estava sendo irônico, mas aquilo apontava mais uma das insatisfações dos professores.
E foram muitas as outras demonstrações de insatisfações. A professora que dava graças  a D'us por estar perto da aposentadoria, o outro que dizia que aquilo não era escola - era o inferno, outra que dizia que determinadas coisas positivas aconteciam em escolas - e não naquele lugar. Pensei "ok, vocês combinaram isso para me assustar, para eu sair correndo, como naqueles episódios do Scooby-doo, certo?".

Eu já havia sido avisado por meus professores que seria esse, basicamente, o clima que eu encontraria na sala dos professores. Não posso negar, no entanto, que a experiência real é perturbadora. 
Minha crítica não é exatamente para os professores, eles são profissionais com décadas de experiência e devem ter suas razões para agir da forma como agiam naquela sala. O que senti naqueles professores foi a sensação de descrédito total - na educação, nos alunos, na coordenadora, na instituição escola, no governo e até em si mesmos. É difícil acreditar que algo pode mudar ali, porque não há mudanças quando ninguém acredita que elas possam acontecer. E é justamente por isso que não critico esses professores, deve ser terrível viver dentro dessa prisão de conformidade.

A professora Cláudia chegou. Pouco tempo depois bateu o sinal e os professores começaram a sair rumo às salas de aula. O professor Saulo me perguntou em qual semestre eu estava e em seguida disse "você já é um professor, seguindo ou não a carreira, você já é um professor". E ali, subindo as escadas junto com a professora Cláudia, eu me senti, pela primeira vez, um professor. E aquilo me encheu de esperanças.

sábado, 28 de agosto de 2010

O primeiro contato

Foram três tentativas até finalmente encontrar o diretor na escola e conseguir conversar com ele. Foi tudo muito rápido: eu me identifiquei e falei do meu interesse em estagiar ali. Ele pediu a carta de apresentação, reclamou que não tinha carimbo, perguntou se eu tinha problemas com faltas na faculdade (não entendi o que o levou a fazer tal pergunta) e por fim disse um "tudo bem". Carimbou, assinou a carta e pediu para que eu voltasse no dia seguinte para conversar com a coordenadora pedagógica.

No dia seguinte, retornei à escola. Cheguei no horário do intervalo dos alunos (o recreio) e o barulho que faziam era impressionante! Eu quase que podia sentir a escola tremer.
Conheci a coordenadora. Minha conversa com ela foi  interrompida várias vezes por alunos que surgiam na porta da sala, sempre com reclamações diferentes. 
Duas meninas surgiram e disseram que alguns meninos estavam jogando lixo do andar de cima. A coordenadora Elisa (vou chamá-la assim) levantou-se e saiu da sala. Voltou uns 15 minutos depois. Retomamos a conversa.
Ela me falou sobre os horários das aulas de Língua Portuguesa e sobre os três professores que eu poderia acompanhar. Entregou um livro para que eu preenchesse com meus dados. Nesse momento, entra uma professora e diz que três alunos (ela disse os nomes) estavam no corredor (o intervalo já havia acabado). A coordenadora saiu da sala, olhou para cima e gritou:
- Tem que passar cola na bunda de vocês pra vocês ficarem sentados nas cadeiras? Se fossem crianças, mas vocês tem 16 anos, seus trastes!

Sim, juro, essas foram exatamente as palavras ditas pela coordenadora. Fiquei assustado. Primeiro porque  percebi que ela desempenhava o papel de inspetora de alunos, lidando diretamente com questões de indisciplina e, segundo, pela forma como ela berrou falou com os alunos. Bunda? Trastes?
Ainda pude ouvir outros gritos da coordenadora, sempre em tom ríspido, bravo, intimidador. Aliás, a própria imagem da coordenadora me parecia intimidadora, com seu porte físico forte e rosto severo.

Mais ou menos 20 minutos depois, ela voltou e retomamos a conversa, mas logo fomos interrompidos por um garoto que apontava para o aparelho em seus dentes. Ele contou que uma garota enganchou o cabelo no aparelho e depois puxou com força, quebrando o aparelho.
A coordenadora foi resolver o problema e desapareceu por quase 1 hora. Eu continuei sentado esperando e  pude presenciar mais uma cena curiosa:
Uma professora conversava com o pai de um aluno sobre o mau comportamente do filho dele. O garoto, que aparentava ter 12 ou 13 anos, estava do lado. A professora disse que ele era inteligente, mas que não usava sua inteligência, que ele fazia lição quando queria, que respeitava e desrespeitava quando queria. O garoto permanecia de cabeça baixa e em silêncio. A professora saiu, e o pai começou a falar em alto e forte tom:
- Você não disse que ia melhorar? Cadê a melhora? Cadê? Eu trabalho o dia inteiro, confio que você está estudando, é assim que você responde minha confiança?
Ele abriu o caderno e começou a passar as folhas.
Havia uma outra professora na mesma sala em que eu estava. O pai a chamou e perguntou do comportamento do filho. A professora respondeu:
- Olha senhor, eu não tenho mais nada pra falar. Já conversamos uma, duas, três vezes... e não houve mudanças. Tudo o que eu disse da última vez continua valendo. E não tenho mais nada pra falar.
O pai agradeceu e se retirou com o filho.
A professora me disse:
- Esse aí só sabe fazer cena, discurso. Vários professores já conversaram com ele, não adianta. Só pensa em dinheiro, larga o filho sozinho. Quando o filho virar bandido aí ele vai visitá-lo na cadeia.
Eu nada comentei.

A coordenadora finalmente voltou e, então, acertamos o horário. Eu começaria no dia seguinte. Ela mandou chamar a primeira professora que eu iria acompanhar as aulas e fez  as devidas apresentações. Cláudia (vou chamá-la assim) é uma bonita e jovem professora, ela foi muito educada comigo.
Fiquei sabendo que eu começaria com as 5ª e 6ª séries.

Quando saí da escola, os alunos também estavam saindo. Fiquei durante algum tempo os observando. Aqueles seriam os meninos e meninas que fariam parte dos meus próximos dias, quem sabe meses. Crianças carentes, brincando, sorrindo, correndo. Elas me pareciam alheias ao mundo injusto em que viviam.

Fiquei pensando na imagem e nos gritos da coordenadora pedagógica daquela escola. Dias atrás, uma professora de pedagogia disse na minha sala de aula que quando a coordenação pedagógica de uma escola funciona, a escola funciona. Como primeira impressão, aquela não me pareceu uma escola que funcionasse. Mas isso eu iria começar a descobrir no dia seguinte, no meu primeiro dia de estágio.

Início

Meu nome é Marcos, sou estudante do curso de Letras, atualmente  no 4º semestre. Por se tratar de um curso de licenciatura, preciso cumprir uma determinada carga horária de estágio em escolas.

Optei por estagiar em uma escola pública porque é de onde eu vim como aluno e para onde quero voltar como professor. Neste momento, a menos que você compartilhe dessa minha vontade,  deve ter pensando "professor da rede pública? Está louco!". Eu compreendo essa reação tão comum, de fato são muitos os desafios da educação... mas ainda não inventaram nada melhor do que a educação para transformar e dar esperança ao homem; e eu quero, de alguma forma, fazer parte disso.

Criei este blog para relatar e compartilhar esta minha experiência de  estágio em uma escola pública. Não sei se será útil para alguém, não sei se conseguirei relatar todo o período do estágo, não sei o quão fiel à realidade conseguirei ser. Mas aqui tem início a minha tentativa.


"Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução, alguns dizem que assim é que a natureza compôs as suas espécies."
- Machado de  Assis